Em tempos difíceis como este, o maior desejo é estar em segurança e longe da pandemia. As medidas de isolamento social resguardaram grande parte da população, e é dentro de casa onde se costuma encontrar a paz. Ou quase. Para quem mora em condomínios, o senso de bem-estar coletivo depende da cooperação de todos e nem sempre isso ocorre.
O trânsito de pessoas em edifícios tem sido matéria de discórdia entre vizinhos. Com mais tempo em casa, os defeitos se tornaram mais evidentes e alguns têm optado por realizar reformas. Ter um lar confortável
Entidade responsável pela organização condominial acredita que não. “O Sindicondomínio não aconselha a realização de obras nas unidades privadas dos condôminos, que não sejam necessárias e emergenciais, haja vista a possibilidade de disseminação da Covid- 19”, dispõe documento de instrução.
O presidente do sindicato, Antônio Carlos Paiva, diz que “o bom senso deve reinar em momentos como este”. Os decretos governamentais que tratam do isolamento não trazem à luz a questão de obras e demais serviços necessários à manutenção dos condomínios. “A legislação ainda não permite que o síndico proíba uma obra, os moradores que devem fazer o julgamento. Quebrou um cano ou vai trocar a cor da parede? Um é necessidade e o outro, risco. Trazer, por exemplo, dois profissionais nas dependências do prédio acaba arriscando a saúde de outras pessoas para reparos que não são emergenciais”, diz.
Uma moradora da 314 Sul relata que o bloco onde mora tem constantes obras particulares. “Além da óbvia tensão pelo grau de vulnerabilidade ao contágio, há um grande acréscimo de estresse proveniente de reformas em andamento em apartamentos, barulhos, poeira incessante, abrindo caminho para problemas respiratórios, além de trânsito de pessoas alheias nas nossas entradas”, diz a condômina, que não quis se identificar.
Ela diz que, após uma assembleia deliberativa, os moradores decidiram suspender as atividades particulares que colocassem em risco a saúde e o conforto dos demais. “A maioria optou pela suspensão imediata das reformas, mas interromperam apenas por quatro dias. Em seguida retomaram a todo vapor, alegando respaldo na legislação sobre medidas de emergência, que não proíbem obras”.
Carlos Paiva esclarece que está em trâmite, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei que, entre outras coisas, dá poder decisório ao síndico sobre a movimentação de pessoas nas áreas comuns do condomínio. “Aprovado na última sexta-feira no Senado, o PL dá certos poderes ao síndico. Por exemplo, a gerência dos resíduos sólidos de moradores que estejam contaminados pelo coronavírus e tudo que desrespeite o trânsito de pessoas”, afirma o presidente.
A regra vale para todos serviço de manutenção. Carlos Henrique Facciolli, 53 anos, é morador da Quadra 111 Norte e interviu na operação de dedetização de seu edifício. “No espaço de recados do elevador, colocaram um comunicado alertando sobre uma dedetização que ocorreria nas áreas comuns. De próprio punho, eu escrevi no papel que estamos em quarentena e este não é o momento ideal para isso”, conta.
Carlos conta que tem dois animais de estimação em casa e que a esposa é alérgica, todos sofrem com a química dos produtos inseticidas. “Eu reclamei e disse que, se queriam fazer dedetização, então, que cada um fizesse na sua residência. Para minha surpresa, mais três quartos dos moradores também pediram o adiamento”, diz Carlos.
O pedido funcionou e a síndica restringiu a operação somente à garagem do edifício. “Imagina só o problema, nessa situação que estamos vivendo, em que não podemos sair de casa. Até ir ao hospital é arriscado. Se a gente apresentasse problema respiratório ou falta de ar pelo veneno, até poderiam nos colocar com pessoas contaminadas na triagem”, diz Maria Cunha, esposa de Carlos, a respeito de seu problema alérgico.
O documento instrutivo do Sindicondomínio também alerta que as atividades condominiais devam ser estudadas caso a caso, e que o espírito de coletividade deve preceder cada iniciativa. “O que deve reinar neste momento é o senso, onde o síndico e seu conselho vão analisar as questões pontuais (…) por inexistir legislação específica sobre o tema.”
Antônio Paiva reitera a necessidade da conciliação. “As pessoas não devem esperar que tudo seja direcionado por uma lei. Em tempos como este que vivemos, o diálogo é fundamental. A grande base do nosso movimento é a negociação e também o bom senso. Vamos procurar viver em paz e juntos.”
É possível deixar os insetos longe do seu lar, a biomédica Samara Magalhães dá algumas dicas para afastar esses pequenos intrusos. Principalmente nesta época de quarentena, a palavra-chave é limpeza.
Fonte: Sindiconet