O uso do gás canalizado em condomínios representa uma comodidade aos moradores, já que elimina a necessidade de compra e armazenamento de botijões de gás. Além disso, o banho quente, na temperatura desejada, também traz mais conforto para quem usa este método de fornecimento de gás. O modelo de pagamento também deve ser levado em consideração, já que a conta só vem depois do uso, assim como nas cobranças de luz. Outro aspecto positivo é o fato do serviço contar com um fornecimento contínuo, 24 horas por dia, sete dias por semana. Portanto, o risco de uma falta repentina de gás está descartado.
No entanto, é necessário redobrar a atenção com a instalação e manter a manutenção em dia para evitar acidentes. Apesar de todo o cuidado exigido, nem sempre síndicos e condôminos zelam pelo bom funcionamento do sistema.
“Num universo de 2.700 prédios onde já realizei vistorias, encontramos em torno de 25% a 30% com problemas graves nas instalações de gás. Problemas como corrosão e substituição de conexões erradas. Com isso, aumenta-se muito o risco de um acidente grande” conta o engenheiro David Gurevitz, sócio da Clínica Delphi, empresa de medicina e segurança do trabalho que também realiza inspeções prediais.
E foi justamente o medo de que acontecesse algum acidente que fez com que o Fernando Martinez realizasse uma inspeção em toda a rede de fornecimento de gás de sua casa. Depois de realizar obras, o gerente comercial recorreu a uma empresa especializada para fazer o serviço. A prevenção mostrou eficácia já que o engenheiro responsável pela vistoria apontou falhas no fogão, corrigidas na sequência por Martinez.
“Duas bocas não estavam acendendo no automático e o engenheiro me falou para chamar um técnico. Pode ter sido uma coisa rídicula, mas caso não tomasse cuidado poderia se transformar em algo mais grave. O que me deixou mais sensível a realizar este tipo de serviço são os acidentes que acontecem. O de São Conrado, por exemplo, foi uma peça do fogão que estava mal colocada”, conta.
O acidente com o apartamento 1.001 do Edifício Canoas, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, certamente está entre os casos mais emblemáticos da cidade. Por conta de um vazamento de gás, uma explosão no fim da madrugada de uma segunda-feira em maio de 2015 terminou com uma morte e dezenas de pessoas desabrigadas. O alemão Markus Muller, morador do imóvel, não resistiu aos ferimentos causados pelo acidente e todas as 72 unidades habitacionais do prédio sofreram danos estruturais. Os residentes só devem retornar às suas casas em outubro deste ano.
De acordo com a perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), divulgada dias depois da explosão, a causa do acidente foi a má instalação do rabicho que ligava o apartamento à rede de gás do edifício. A peça foi encontrada na área comum do condomínio, ainda com o selo indicando que o material havido sido recém-comprado.
E não é apenas o risco de explosão que deve ser levado em conta na hora de se planejar um sistema de fornecimento de gás canalizado. O principal resíduo quando a queima do gás natural não é perfeita em sistemas de aquecimento é o monóxido de carbono (CO). Extremamente tóxico, o monóxido de carbono apresenta um grande risco se inalado durante longo período. A CEG, concessionária responsável pelo fornecimento e distribuição de gás no Rio de Janeiro, fornece algumas orientações para cômodos onde existam equipamentos a gás. A empresa explica que o volume mínimo do ambiente deve ser de seis metros cúbicos, deve haver ventilação superior com 600 centímetros quadrados de área mínima e ventilação inferior através de corte de três centímetros na porta ou instalação de veneziana com área mínima de 200 centímetos quadrados, a menos de 80 centímetros de altura.
“A falta de ventilação é o que mais encontramos de irregularidade. Um risco absurdo. As pessoas falam muito de gás, que gás é perigoso, no entanto, o mais perigoso na utilização do sistema é a falta de ventilação ou de exaustão. Todo o equipamento, seja de cocção ou de banho gera monóxido de carbono devido à queima. E as pessoas não dão importância à ventilação”, conta Evandro de Freitas Júnior, diretor da Energás Serviços, empresa que presta serviço à CEG e que também realiza inspeções e manutenções prediais.
O QUE DIZ A LEI
Quando o assunto é segurança, condomínio e condôminos devem dividir responsabilidades. Diferentes órgãos nas mais variadas esferas de poder estebelecem normas para conservação e distribuem responsabilidades pelo gás canalizado. O artigo 1.331 do Código Civil, por exemplo, determina que a manutenção de gás canalizado em áreas comuns deve ser feita pelo condomínio. Já a rede de uso exclusivo é de responsabilidade do condômino.
A Lei da Autovistoria (6890/2014), regulamentada em setembro de 2014 pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), estabelece que todas unidades residenciais e comerciais do estado devem realizar autovistorias nas instalações de gás a cada cinco anos. Caso alguma unidade seja reprovada, o fornecimento pode ser suspenso. A lei ainda estabelece multa de 50 a 100 UFIR-RJ a concesionárias e distribuidoras por unidade consumidora que não tenha tido a interrupção do fornecimento do gás após reprovação em teste. Além disso, caso aconteça algum acidente, as empresas devem pagar todas as despesas materiais ou acidentes pessoais, ainda em caso de não suspensão do fornecimento.
Já a regulamentação dos requisitos mínimos para o projeto e a execução de redes de distribuição interna de gases fica por conta da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através da norma 15.526.
“ A responsabilização do condomínio e/ou condômino está regulada pelo Código Civil Brasileiro, devendo ser apurada judicialmente a extensão e quantificação dos danos causados. Nessa relação, todos possuem responsabilidades. Cabe ao condomínio, por exemplo, guardar e cuidar das instalações, acionar a concessionária de fornecimento quando houver qualquer suspeita de problema no fornecimento e manter os equipamentos de prevenção e combate a incêndio em perfeitas condições de utilização. Cabe ao condômino uma série de cuidados na rede de uso exclusivo como a utilização de equipamentos de qualidade e aprovados pelos órgãos técnicos, manter a regulação e limpeza adequada dos equipamentos e manter a ventilação nos locais onde estão instalados os aquecedores. As concessionárias também possuem responsabilidades, devem possuir pessoal preparado para atender com brevidade as solicitações de reparo e correção técnica, realizar as vistorias estabelecidas pela legislação” conta o advogado da Schneider Associados, Douglas Pimenta.
A simples promulgação da Lei da Autovistoria já gerou um efeito imediato na preocupação de condomínios e condôminos com a manutenção dos sistemas de gás canalizado. Evandro de Freitas Júnior conta que a procura pelos serviços de sua empresa têm aumentado desde então.
“Com a lei,, mais condomínios têm nos procurado. Os condomínio passam a ter ainda mais preocupação, principalmente nas áreas comuns, já que toda instalação de qualquer prédio passa pelas áreas comuns”.
COMO SE PREVENIR
Para evitar acidentes e garantir uma vida útil mais longa de todos os equipamentos envolvidos no sistema, é necessário tomar algumas precauções. Algumas ações, inclusive, podem ser feitas pelos próprios moradores, sem a necessidade de supervisão especializada. O engenheiro David Gurevitz ensina alguns testes que podem ser feitos para que não haja nenhuma “surpresa”.
“Os principais problemas dentro de um apartamento estão relacionados à má conservação de mangueiras e conexões. Por isso, uma boa inspeção de como vai a qualidade dos equipamentos é fundamental para evitar acidentes. A mangueira de gás que vai do fogão à parede, por exemplo, pode ser verificada rapidamente. Basta pegar uma esponja com detergente, fazer bastante espuma e passar em volta da mangueira. Se formar bolhas, é porque tem vazamento. Também é importante verificar se a chama está azul, que é a cor correta, se não tem chama mais alta e outra mais baixa. Diferentes tamanhos de chama no bico do fogão vão indicar que há problemas de sujeira, o que pode levar a vazamentos. São coisas muito simples que o próprio morador pode observar”.
Já o serviço de inspeção da qualidade do sistema de gás de um condomínio deve ser feito por uma empresa especializada. O teste de estanqueidade de tubulações mede se há vazamentos em algum cano através de um comparativo de pressões.
“O teste é feito a partir da base do prédio. Você fecha todo o abastecimento aos apartamentos e injeta uma pressão lá embaixo. Tem um equipamento que acompanha e vê se a pressão abaixou. Se a pressão tiver baixado, há um vazamento. De acordo com a quantidade, o vazamento é mais ou menos sério”, explica Gurevitz.
DICAS PARA ECONOMIZAR
No fogão:
– Procure programar o horário das refeições de sua família para evitar reaquecer alimentos;
– Antes de abrir o gás de um queimador, tenha em mãos fósforos ou prepare-se para acionar um acendedor automático;
– Mantenha os queimadores limpos e regulados. A chama deve ter tom azulado. Se estiver amarelada, é sinal de que os queimadores estão sujos ou desregulados, o que aumenta o consumo e pode ocasionar vazamentos;
– Limpe sempre os queimadores com água e detergente e só os coloque de volta quando estiverem bem secos. Confirme se estão bem encaixados;
– Use panelas com o tamanho adequado para a quantidade de alimento que você for cozinhar. Panelas maiores levam mais tempo para aquecer os alimentos;
– Alimentos muito duros ou muito consistentes cozinham mais rápido se forem colocados previamente de molho;
– Centralize a panela no queimador e, assim que retirá-la, apague o fogo;
– Use, sempre que possível, panelas de pressão. Elas cozinham em temperaturas mais altas e, portanto, gastam menos;
– Prefira panelas com base plana e larga. Panelas com fundo arredondado podem tombar e também aumentam o consumo;
– Evite o transbordamento de líquidos sobre os queimadores. Além de entupir, eles podem apagar a chama, causando uma situação de risco;
– Sempre que possível, use o forno para assar ou esquentar mais de um alimento simultaneamente;
– Evite abrir o forno com frequência quando ele estiver ligado. E sempre feche a porta do forno devagar para evitar que a chama se apague;
– Tampe as panelas enquanto cozinha para aproveitar o calor que simplesmente se perde no ar se a tampa estiver aberta;
– Regule a chama do fogão no mínimo. Potência não garante o cozimento dos alimentos com maior rapidez. Fogo alto só queima a comida.
No aquecedor
– Não use a temperatura máxima de seu aquecedor sem necessidade. Colocar o aquecedor no máximo e misturar água fria só desperdiça água e gás;
– Apague a chama piloto imediatamente ao terminar seu banho, se o aquecedor não for automático. Assim, você evita desperdício e não coloca sua segurança em risco;
– Para sua segurança, quando nã estiver usando o aquecedor, deixe o registro geral de segurança fechado. Sempre verifique antes de dormir ou sair de casa;
– As chamas do aquecedor devem apresentar coloração azulada. A presença de tons amarelos indica que os queimadores estão sujos ou desregulados, ou seja, consumindo mais gás.
BENEFÍCIOS X RISCOS
Benefícios
– Praticidade: o gás natural canalizado tem fornecimento contínuo, 24 horas por dia, sete dias por semana.
– Mais espaço: sem o botijão, a cozinha fica com mais área livre. Além disso, não é preciso armazenar para não correr o risco de o gás acabar no meio de uma receita.
– Verstátil: o gás natural pode ser utilizado tanto na cocção de alimentos como para deixar o banho na temperatura desejada.
– Aproveitamento total: ao contrário do gás de botijão, o gás natural não deixa resíduos. Você só paga o que consumir.
– Pós-pago: o pagamento só acontece após o consumo, através de conta individual.
Riscos:
– Toxicicidade: o principal resíduo da queima de gás natural em aquecedores é o monóxido de carbono, que apresenta enorme risco à saúde caso inalado por muito tempo.
– Inflamável: o gás natural é muito inflamável e se torna um risco em caso de vazamentos. Apenas acender um interruptor pode causar grandes explosões.
– Acúmulo: por ser mais leve que o ar, o gás natural tende a se acumular nas partes mais elevadas em ambientes fechados
– Preço: o gás natural tende a ser mais caro que o gás de botijão.
– Manutenção: por ser mais versátil e atender a uma gama maior de finalidades, o gás natural é combustível em diversos equipamentos, o que exige manutenção em mais aparelhos.
Matéria de Gabriel Rosa para a Revista Síndico